Aquela região era completamente nova para mim, já que o máximo que tinha saído de dentro de minha vila foi na margem do território Senninka. As cores, o movimento de civis que vazavam de dentro de casa em meio ao frio da noite... era algo que prendia minha atenção. Minha mente parecia estar diferente, fosca, e eu sentia dificuldade de sentir algo ou definir algo com facilidade.

O som da porta abrindo ativou um alerta de sobrevivência, e eu me virei com ossos saindo de minha pele para executar o Teshi Sendan na direção do som, tenso e agressivo em cada detalhe do meu corpo. Ao invés de dispará-los, eles caíram um a um no chão enquanto eu percebia que meu médico era quem havia entrado.

:skull: Perdão, Hebi-san. :skull: Aliviei minha postura, ficando reto de novo, ainda com uma face de desconfiança. :skull: Sim, eu consigo. :skull: Me apoiei novamente, mas agora com o cotovelo encostado e virado para dentro. :skull: Não se preocupe, eu pergunto depois. :skull: Disse, tendo em mente que a confiabilidade nele era baixa e qualquer coisa poderia significar uma armadilha. A própria essência dele exalava isso, e somar isso com o fato que ele era pupilo daquele homem que havia...

:skull: O que é isso que vocês colocaram em mim? :skull: Quebrei minha própria conduta e me movi dois passos para frente com os punhos levantados, questionando aquilo quando passou pela minha cabeça a cena do homem sendo destruído na minha frente enquanto eu senti meu corpo queimar por dentro.

Observei tenso as palavras do homem saírem de sua boca tal como serpentes se projetando em minha direção. Enrolava, constringia. Me tornava um rato de laboratório, algo que deu errado, sua janta. Aquela narrativa alucinante pegava no âmago, fazia meu coração bater forte e relutantemente ao mesmo tempo, quase que descompassado.

Meus dentes eram apertados com força dentro da boca, e a minha visão já não encarava de frente o homem e se abaixava com vergonha. Meus punhos perdiam a determinação e eram abaixados, trêmulos, enquanto aquela culpa recaía sobre meus ombros.

Antes mesmo dele terminar, eu dei meia volta e peguei meu cigarro do lugar de sempre, acendendo-o e focando a direção da paisagem. Aquilo me acalmaria pelo momento, evitaria que eu fizesse algo sem pensar antes, conteria aquela coisa borbulhando dentro de mim. A ansiedade parecia ser sobrepujada por aquele ritual, esmaecendo e sendo enterrada pela fumaça.

O homem parecia terminar suas instruções com uma questão simples. Sua presença era esmagadora, então eu sequer conseguia rebater. :skull: E qual é essa pista? :skull: Avancei a conversa sem negar ou confirmar que havia entendido. Estava obstinado, procurando brechas de assunto para conseguir mais informações. A fumaça escapou pelos lábios, sendo empurrada pelo vento para dentro. :skull: Se eu saí para conseguir pistas, o mínimo que eu preciso saber para voltar é ter elas. :skull: Negociava aquela troca simples.

Apesar de Nagasaki ser alguém com uma influência estranha, eu não sentia que necessariamente ele tinha o objetivo de me matar ou matar o oficial. As duas serpentes escapando poderiam ser algo plausível, mas eu não estava com cabeça para pensar naquilo. Aceitando em termos que não estava em perigo completo contanto que mantivesse segredo ou controle da situação, consegui me virar e encarar o líder daquele local, puxando um pouco mais de fumaça para dentro.

:skull: Também quero saber sobre esse poder. Eu sinto ele... :skull: Avancei minha mão até a nuca, dedilhando a área da picada enquanto a fumaça saía junto as palavras. :skull: ...aqui. :skull: Era como se a pele ficasse mais fina ali, como uma porta de vidro que deixava ver o lado de dentro do meu corpo, ou era como eu imaginava. :skull: Se eu liberar esse sentimento, o que acontece? :skull: Uma questão final para que eu sossegasse.

Meus olhos arregalaram levemente quando eu descobri que meus pais estavam vivos e próximos de Shimo. Não era como se eu pudesse simplesmente avançar na direção deles agora, ou poderia ser considerado mesmo um desertor não só de Kiri, mas do Vilarejo Sul também.

:skull: Entendi. :skull: Soltei, tentando processar aquelas informações e lembrar delas. :skull: Obrigado. :skull: Considerei, olhando para o lado enquanto caminhava lentamente em uma linha de lá para cá em repetição. Ouvia o que ele dizia, continuando com o movimento e absorvendo aquilo também.

:skull: Eu imagino que vocês tenham algum senninka servindo a esse teste. :skull: Bati a ponta ao passar pela janela, deixando as cinzas choverem daquele ponto. :skull: Seria mais fácil se eu tivesse acesso a ele. :skull: Coloquei o fumo novamente nos lábios, e a ponta acendeu com força enquanto virava a atenção para Hebi. :skull: Entendo se não for possível, também, mas gostaria de aproveitar minha estadia para testar isso. Eu ganho em experiência, vocês ganham em dados para seus objetivos. :skull: Me aproximei do homem, oferecendo um cigarro para ele. :skull: O que acha? :skull: Se ele aceitasse, acenderia-o; caso não, apenas guardaria de volta junto com o resto.

Hebi não era nada brando nas palavras: "prendermos", "vítimas", "espiar". Ele claramente era alguém que não estava com bons planos. :skull: Tudo bem, se não me quer aqui, só precisava dizer isso. :skull: Sorri, cuspindo um pouco mais de fumaça. Era claro que apresentar um plano de confinamento em laboratório era uma ideia muito conflituosa para qualquer um, e o homem não parecia querer esconder aquilo.

:skull: Pode deixar... :skull: Soltei, notando que ele sequer se deu ao trabalho de se despedir antes de fechar a porta. Otário completei mentalmente. Dei alguns passos para trás e sentei na cama, sentindo o frio da sala vencer a adrenalina de estar com aquela pessoa diante da minha presença. Tinha algo muito errado com ele, algo que atinava meus sentidos e me deixava completamente estranho.

Por cerca de cinco minutos parei para refletir e então juntei minhas coisas. Olhei pela janela uma última vez, e então partiria daquele local pela única porta que tinha acesso, afinal, meu objetivo estava completo. Sem precisar me evadir ou esconder minha andança, tomaria um caminho comum a partir dali e caminharia tranquilamente para voltar. Poderia ainda aprender uma coisa ou duas daquela região enquanto estivesse naquele local.

Que putaria generalizada! Depois de sair do prédio sem nenhum acesso adicional para outras salas por causa de qualquer coisa tosca do lado da porta, aquela noite parecia ainda maior em movimento agora que estava no meio da algazarra. Por precaução, coloquei minha bolsa ninja para frente e depositei minha mão em cima da abertura para que ninguém mexesse no meu saco sem minha permissão. Com o nível que estava o lugar, provavelmente haviam ladrões em todo canto.

Parei adiante de uma feirinha ou outra, dando uma olhada rápida naquelas coisas. Vi que existia até um bando militar, mas não me aproximaria ainda deles. Fui até algum lugar que parecia vender medicamentos e cheguei junto, tendo um interesse especial em saber o que era vendido ali. Tentei ir num lugar com qualquer outro cliente junto, para dividir a atenção do vendedor sem que ele ficasse sobrecarregado ou eu tivesse que tomar muito mais cuidado com quem poderia usar isso para me pegar de surpresa.

:skull: Noite. O que tem para oferecer para um jovem com problemas para dormir? :skull: Questionei, olhando o que ele tinha para oferecer enquanto fazia um gesto de fumo com a mão esquerda, então recuando-a para a katana levando a outra no resto das minhas coisas.

:skull: Eu vou querer cinco. :skull: Fiz o número com a mão, retirando um pouco de dinheiro da bolsa ninja; basicamente, uma nota baixa e uma moeda alta. Aquilo poderia ser útil para análise no futuro, e eu conhecia alguém que poderia me ajudar com isso muito bem. Entreguei o dinheiro, e esperei uma sacola para levar aqueles materiais comigo. Mesmo se fosse algo falso, poderia dar uma base simples do que era vendido ao redor para acesso da população. Em momento algum houve menção à pílulas de sistema farmacêutico - da mesma forma que não existia uma venda muito aberta de drogas recreativas.

Dei meia volta. Meu próximo alvo era a venda de armas, onde eu tinha a esperança de encontrar algum rosto conhecido ou algo do gênero. Talvez poderia achar algo interessante, mas passaria unicamente ali para achar informações em primeiro foco.

:skull: Noite. Vocês têm algum tipo de papel bomba mais forte? Algo... :skull: Olhei para os lados, abaixando o tom. :skull: Que faça um pequeno show? :skull: Sorri.

Sentia que tinha chego no meu prêmio máximo com aquele sorriso, e respondi dando outro de igual intensidade... até algum arrombado gritar que tava tendo briga em algum canto. Tipo... foda-se? Eu quero meu explosivo! :skull: Ei... o meu... :skull: Ele parecia apressado demais para me ouvir, juntando tudo aquilo mais rápido que quem ouve os pais chegando em casa e tem visita no quarto.

Bufei, virando na direção dos sons de briga e indo na direção deles sem me preocupar muito com efeitos colaterais daquele ato, colocando a mão nos bolsos e avançando para ver o que estava acontecendo, marchando contra a maré de pessoas que ia para o sentido oposto. Até mesmo figuras de autoridade escapavam da cena, indicando que algo tenso estava por vir. Que putaria, mano!

Agarrei um cigarro e acendi, deixando ele trabalhar pela minha ansiedade no meu lugar e quebrar o foco monolítico daquela situação, aliviando as ideias na cabeça.

Se eu estava ali para pegar informações, que elas fossem completas. Talvez eu estivesse com algum parafuso a menos? Talvez, talvez. Só que num tudo ou nada era necessário apostar para participar do jogo. Hora de ver as cartas, então!